(Artigo de Opinião)
Autora: Jennifer Lynch
Título Original: The Secret Diary of Laura Palmer (1990)
Tradução: Ana Lourenço
ISBN: 978-989-665-112-1
Nº de páginas: 264
Nº de páginas: 264
Editora: Suma de Letras
Sinopse
Laura Palmer - a rapariga de rosto doce de Twin Peaks - escondeu as suas acções mais sombrias e os sonhos mais retorcido num diário secreto, a partir dos doze anos... até ao dia em que foi assassinada.
O diário contém pistas importantes sobre a identidade do seu assassino. E, para os habitantes de Twin Peaks, tem início um mistério que irá obcecá-los a todos.
O diário contém pistas importantes sobre a identidade do seu assassino. E, para os habitantes de Twin Peaks, tem início um mistério que irá obcecá-los a todos.
Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Suma de Letras em troca de uma opinião sincera
Opinião
Começo por agradecer à Suma de Letras pelo gentil envio do livro.
"O Diário Secreto de Laura Palmer" - que chega pela mão de Jennifer Lynch, filha de David Lynch, um dos co-criadores da série - surge como complemento de Twin Peaks: um estrondoso êxito nos anos 90 por apresentar uma trama complexa e personagens insólitas e excêntricas, diferente do realizado até então. Não tendo eu acompanhado a série, temi sentir-me um pouco perdida na teia de acontecimentos e personagens da pequena localidade de Twin Peaks, mas acabei por conseguir situar-me e acompanhar a jovem Laura durante o complicado período decorrido entre a sua puberdade e adolescência.
Conhecemos Laura Palmer, a dona do diário, no dia do seu décimo segundo aniversário, data em que este lhe é oferecido. Desde o início que nos é dado a entender que esta jovem não é tão pura e inocente como todos julgam mas, com o passar do tempo, é cada vez mais evidente a espiral de decadência em que se tem vindo a afundar sem que ninguém dê por isso.
Laura é uma jovem extremamente perturbada, atormentada pelo peso de um fantasma que não sabe se é real, presa pelo medo a uma existência excêntrica e heteróclita, tentando a todo o custo apartar-se da negra identidade que sabe existir dentro de si. Para isso, refugia-se num processo de autodestruição, caindo nas garras do álcool, das drogas e do sexo, explorando ao máximo os seus desejos mais escuros e recônditos numa tentativa de se sentir no controlo da sua vida.
De facto, é difícil distinguir o que é real e ficcionado nos relatos de Laura, mas também é constante menção a abusos sexuais por parte de uma figura que inspira puro terror à jovem: alguém a que se refere como BOB. Apesar de não sabermos a veracidade desta figura, o trauma que provoca em Laura é tão grande que ela adota um sentimento de culpa e de repulsa que a fazem testar os limites morais.
O formato de diário permite que o leitor tenha acesso a um relato mais sincero e intimista, tendo livre acesso aos pensamentos mais profundos da protagonista. Porém, também tem os seus inconvenientes: os lapsos temporais criam alguma dificuldade em acompanhar os acontecimentos, o que acaba por resultar nalguma perda de interesse pela falta de dados. Além disso, várias personagens passam pela vida de Laura sem que sejam devidamente introduzidas e apresentadas e, embora por vezes sejam apenas mencionadas sem chegarem verdadeiramente a intervir, acabaram por me criar alguma confusão. No entanto, o ritmo vertiginoso do amadurecimento - e simultânea destruição da protagonista - conseguiu prender-me a atenção, pois não consegui evitar compadecer-me com o enorme sofrimento desta.
Jennifer Lynch utiliza uma linguagem muito direta e crua nos relatos de Laura, numa abordagem algo fria, mas extremamente intimista dos acontecimentos. Mostra-nos uma Laura Palmer que se sente abandonada, desesperada e desorientada, sem saber que rumo dar à sua vida. Desde cedo que percebemos que a jovem Laura se encontra numa fase conturbada da sua vida, com tendência a isolar-se das pessoas que conhece e a desejar tudo o que a faça sentir viva e com poder. Todavia, não tem ninguém que note a precária situação de desequilíbrio em que se encontra, na procura de uma aceitação que não chega. Por diversas vezes durante a leitura me perguntei como é que os pais não notaram nada de estranho no comportamento depressivo da filha. Tendo-se Laura afastado das pessoas que gostavam dela e que se preocupavam com o seu bem-estar, acabou por não ter ninguém em quem confiar e com quem poder partilhar as suas dúvidas e medos, tornando-se o próprio diário o seu melhor e único amigo.
"O Diário Secreto de Laura Palmer" é um livro com uma história perturbadora e cruel de uma menina perdida e atormentada. Com temas fortes e chocantes como os abusos e a pedofilia, o álcool, as drogas, o sexo e a prostituição, esta trama intensa é não só um convite à reflexão, mas também uma excelente oportunidade para experimentar - ou recordar - esta série tão aclamada e sui generis. Uma boa leitura!
"O Diário Secreto de Laura Palmer" - que chega pela mão de Jennifer Lynch, filha de David Lynch, um dos co-criadores da série - surge como complemento de Twin Peaks: um estrondoso êxito nos anos 90 por apresentar uma trama complexa e personagens insólitas e excêntricas, diferente do realizado até então. Não tendo eu acompanhado a série, temi sentir-me um pouco perdida na teia de acontecimentos e personagens da pequena localidade de Twin Peaks, mas acabei por conseguir situar-me e acompanhar a jovem Laura durante o complicado período decorrido entre a sua puberdade e adolescência.
Conhecemos Laura Palmer, a dona do diário, no dia do seu décimo segundo aniversário, data em que este lhe é oferecido. Desde o início que nos é dado a entender que esta jovem não é tão pura e inocente como todos julgam mas, com o passar do tempo, é cada vez mais evidente a espiral de decadência em que se tem vindo a afundar sem que ninguém dê por isso.
Laura é uma jovem extremamente perturbada, atormentada pelo peso de um fantasma que não sabe se é real, presa pelo medo a uma existência excêntrica e heteróclita, tentando a todo o custo apartar-se da negra identidade que sabe existir dentro de si. Para isso, refugia-se num processo de autodestruição, caindo nas garras do álcool, das drogas e do sexo, explorando ao máximo os seus desejos mais escuros e recônditos numa tentativa de se sentir no controlo da sua vida.
De facto, é difícil distinguir o que é real e ficcionado nos relatos de Laura, mas também é constante menção a abusos sexuais por parte de uma figura que inspira puro terror à jovem: alguém a que se refere como BOB. Apesar de não sabermos a veracidade desta figura, o trauma que provoca em Laura é tão grande que ela adota um sentimento de culpa e de repulsa que a fazem testar os limites morais.
O formato de diário permite que o leitor tenha acesso a um relato mais sincero e intimista, tendo livre acesso aos pensamentos mais profundos da protagonista. Porém, também tem os seus inconvenientes: os lapsos temporais criam alguma dificuldade em acompanhar os acontecimentos, o que acaba por resultar nalguma perda de interesse pela falta de dados. Além disso, várias personagens passam pela vida de Laura sem que sejam devidamente introduzidas e apresentadas e, embora por vezes sejam apenas mencionadas sem chegarem verdadeiramente a intervir, acabaram por me criar alguma confusão. No entanto, o ritmo vertiginoso do amadurecimento - e simultânea destruição da protagonista - conseguiu prender-me a atenção, pois não consegui evitar compadecer-me com o enorme sofrimento desta.
Jennifer Lynch utiliza uma linguagem muito direta e crua nos relatos de Laura, numa abordagem algo fria, mas extremamente intimista dos acontecimentos. Mostra-nos uma Laura Palmer que se sente abandonada, desesperada e desorientada, sem saber que rumo dar à sua vida. Desde cedo que percebemos que a jovem Laura se encontra numa fase conturbada da sua vida, com tendência a isolar-se das pessoas que conhece e a desejar tudo o que a faça sentir viva e com poder. Todavia, não tem ninguém que note a precária situação de desequilíbrio em que se encontra, na procura de uma aceitação que não chega. Por diversas vezes durante a leitura me perguntei como é que os pais não notaram nada de estranho no comportamento depressivo da filha. Tendo-se Laura afastado das pessoas que gostavam dela e que se preocupavam com o seu bem-estar, acabou por não ter ninguém em quem confiar e com quem poder partilhar as suas dúvidas e medos, tornando-se o próprio diário o seu melhor e único amigo.
"O Diário Secreto de Laura Palmer" é um livro com uma história perturbadora e cruel de uma menina perdida e atormentada. Com temas fortes e chocantes como os abusos e a pedofilia, o álcool, as drogas, o sexo e a prostituição, esta trama intensa é não só um convite à reflexão, mas também uma excelente oportunidade para experimentar - ou recordar - esta série tão aclamada e sui generis. Uma boa leitura!
Música que aconselho para acompanhar a leitura: Falling - Twin Peaks Theme_Vocal by Julee Cruise
Adoro a serie e todo o universo que a rodeia :)
ResponderEliminarOlá! Se é fã Twin Peaks, este livro será de certeza uma boa leitura! :)
EliminarUm beijinho,
Ana