Opinião sobre "Paraíso" (Wayward Pines #1) - Blake Crouch

Paraíso
(Wayward Pines #1)

(Artigo de Opinião)

Autor: Blake Crouch
Título Original: Pines (2012)
Tradução: João Tordo e Ester Cortegano

ISBN: 978-989-8775-36-8
Nº de páginas: 336

Editora: Suma de Letras Portugal

Sinopse

     As crianças brincam na rua e os pássaros chilreiam nas árvores quando o agente dos Serviços Secretos Ethan Burke chega a Wayward Pines, uma pequena localidade nas paisagens bucólicas de Idaho.

     A sua missão é clara: encontrar dois agentes federais que desapareceram há dois meses naquele lugar idílico. Apenas alguns minutos depois de chegar, Ethan sofre um violento acidente e acorda nos hospital: sem documentação, sem telemóvel, sem a sua pasta de investigação.

     À medida que a investigação avança, as dúvidas são cada vez mais numerosas e inquietantes do que as respostas. Porque não consegue Ethan comunicar, de forma nenhuma, coma mulher e o filho? Por que razão todos duvidam da sua identidade? Qual é o propósito do muro electrificado que circunda a cidade? impedir os habitantes de sair... ou impedir alguma coisa de entrar?

     A cada passo que dá na procura da verdade, burke afasta-se cada vez mais do mundo que pensava conhecer e do homem que pensava ser. Até que barra numa dúvida aterradora: será ele capaz de sair de Wayward Pines?

Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Suma de Letras em troca de uma opinião sincera

Opinião

       O livro foi-me oferecido pela Suma de Letras, a quem aproveito para agradecer, e trazia, cobrindo a capa original, uma outra, promocional, fazendo a divulgação da série inspirada na obra com o mesmo nome. Ambas as capas são muito apelativas: a original é composta por uma montagem com duas fotografias - a imagem superior, representa uma cidade da América, por volta dos anos 50, em alusão às casa vitorianas que são retratadas no livro; a inferior, representa uma floresta, nitidamente relacionada com a de Wayward Pines; a capa promocional tem uma fotografia do ator que representa o papel do protagonista na série.

    Mergulhei em Wayward Pines levando comigo apenas uma grande dose de curiosidade e expectativa. Confesso que ainda não conhecia a série televisiva e isso acabou por se tornar numa vantagem, pois tive a oportunidade e o prazer de poder imaginar os personagens sem ter de me condicionar às características dos atores que encarnam os habitantes da cidade.

       Ethan Burke é um agente dos Serviços Secretos Americanos que é encarregue de procurar dois colegas – o agente Bill Evans e a agente Kate Hewson, outrora sua amante - que desapareceram numa recatada cidade do Idaho, Wayward Pines. Sofre um aparatoso acidente, ficando ferido, e o colega que ia com ele no carro, o agente Stallings, acaba por falecer. Ethan acorda no chão, junto ao rio, dorido e sem saber quem é nem onde está. Não encontra a sua identificação nem consegue comunicar com o mundo exterior. Caminha em direção à cidade. Acaba por ir parar ao hospital, onde é deixado aos cuidados da enfermeira Pam. Embora inicialmente simpática, Ethan rapidamente percebe que esta não está tão interessada em ajudar como aparenta.

      Foge do hospital em busca de respostas. Conhece Beverly, empregada num bar que lhe serve o jantar e lhe dá uma morada. No dia seguinte, Ethan caminha até à casa indicada e acaba por encontrar o agente Evans torturado e morto. Dirige-se ao gabinete do xerife, Arnold Pope, para dar conhecimento da ocorrência. Continua sem conseguir comunicar nem com a família nem com o seu superior.

      Mete-se em problemas ao tentar fugir da cidade. A hostilidade das pessoas que o rodeiam deixam-no de sobreaviso, O medo é notório nos habitantes daquela cidade. E, aos poucos, o agente Burke vai começando a perceber que em Wayward Pines nem tudo é o que parece, ao mesmo tempo em que é levado a crer que não se encontra mentalmente saudável.

          

      Subitamente acusado de homicídio e com uma cidade inteira a persegui-lo e a tentar matá-lo, vê-se obrigado a tentar a todo o custo fugir de um lugar que parece não ter saída. A vedação electrificada, que representa uma fronteira entre o autodenominado "Paraíso" e o mundo exterior, restringe as opções de Ethan. Vai começando a descobrir os segredos da cidade, ao mesmo tempo que luta pela sua vida, percebendo que esta estás nas mãos de um louco.

     Ethan Burke, o personagem principal, não tem nenhuma característica especial que o diferencie de qualquer outra pessoa. Na realidade, penso que é o desespero que o conecta verdadeiramente com o leitor. É difícil mantermo-nos indiferentes ao seu sofrimento.

   A linguagem é acessível, mas as cenas são pormenorizadamente narradas, quase cinematográficas, levando o leitor a partilhar todas as experiência com Ethan: o medo, a desconfiança, a curiosidade, a necessidade de respostas... As lutas são deveras realistas e o terror vivenciado é tão bem descrito que acabamos também nós por duvidar da sanidade do protagonista.

    Além disso, o livro tem dois outros aspetos que conferem qualidade à história: o relato paralelo do que se vai passando com a mulher de Ethan, Theresa, e com o seu filho, Ben; e os episódios traumáticos vividos por Ethan na Guerra do Golfo. 

   Muitas revelações fundamentais são feitas no final do livro, mas ainda muitas coisas ficam por explicar. Com um fim abrupto, os próximos volumes da trilogia, por certo, deverão esclarecer as dúvidas que este deixa no ar.

    Inicialmente um thriller psicológico, este livro acabou por se revelar numa fantástica mistura de distopia e sci-fi futurista. A ideia da pequena cidade que esconde um grande segredo era o ideal do autor e, na minha opinião, foi espetacularmente conseguido. O jogo mental exercido nos personagens, as peças que se vão encaixando à medida que nos aproximamos do final, prendem a atenção com facilidade, criando uma dependência com o livro. O início de uma trilogia que se prevê viciante!

 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Demons_Imagine Dragons

(https://www.youtube.com/watch?v=GFQYaoiIFh8)