(Artigo de Opinião)
Autora: Gail Honeyman
Título Original: Eleanor Oliphat is Completely Fine (2017)
Tradução: Elsa T. S. Vieira
ISBN: 978-972-0-04898-1
Nº de páginas: 328
Nº de páginas: 328
Editora: Porto Editora
Sinopse
Eleanor Oliphant tem uma vida perfeitamente normal - ou assim quer acreditar. É uma mulher algo excêntrica e pouco dotada na arte da interação social, cuja vida solitária gira à volta de trabalho, vodca, refeições pré-cozinhadas e conversas telefónicas semanais com a mãe.
Porém, a rotina que tanto preza fica virada do avesso quando conhece Raymond - o técnico de informática do escritório onde trabalha, um homem trapalhão e com uma grande falta de maneiras - e ambos socorrem Sammy, um senhor de idade que perdeu os sentidos no meio da rua.
A amizade entre os três acaba por trazer mais pessoas à vida de Eleanor e alargar os seus horizontes. E, com a ajuda de Raymond, ela começa a enfrentar a verdade que manteve escondida de si própria, sobre a sua vida e o seu passado, num processo penoso mas que lhe permitirá por fim abrir o coração.
Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Porto Editora em troca de uma opinião sincera
Opinião
Começo por agradecer à Porto Editora pelo gentil envio do livro.
Livro de estreia de Gail Honeyman, "A Educação de Eleanor" narra a história de uma mulher inadaptada aos padrões da sociedade. Este é um livro diferente e apaixonante, com uma protagonista sui generis que vai conquistando aos poucos, e que é, em grande parte, uma homenagem belíssima ao poder da amizade.
Eleanor Oliphant é uma mulher na casa dos trinta com falhas graves na sua capacidade de interação social, e que encara o mundo de forma muito própria, segundo padrões algo excêntricos, o que leva a que seja uma pessoa bastante solitária. Isto, por si só, não a incomoda particularmente, visto que a rotina lhe transmite segurança e que o seu interesse em possuir uma vida social não é de todo relevante. Porém, apesar de crer não precisar de pessoas para viver tranquilamente, a verdade é que Eleanor sente que ter alguém na sua vida poderia ser a solução para todos os seus problemas.
Assim, desenvolve uma paixão platónica por um músico que viu atuar num concerto e que assume como sua alma gémea. No seu fascínio que roça quase a obsessão, Eleanor enceta um plano para se dar a conhecer ao cantor, enquanto tenta gerir a sua recente vida social. No entanto, não está habituada a este jogo de aparências, e as ilusões podem sair-lhe caras.
E depois há Raymond, um novo colega de trabalho que, embora com muitos defeitos, se torna o primeiro amigo de Eleanor, depois de ajudarem Sammy, um senhor idoso que se sentiu mal em plena rua. É através desta amizade que se desenvolve entre os três que os círculos sociais de Eleanor se vão alargando, e ela vai conhecendo pessoas que, lentamente, vão mudando a sua opinião sobre o mundo e sobre si própria, ao mesmo tempo que ajudam a sarar as feridas do passado, abrindo um espaço no coração dela para poder para começar de novo.
Eleanor é uma personagem deliciosamente singular, criativa e tocante, e ao mesmo tempo extremamente complexa. Sendo uma mulher inteligente, as suas linhas de pensamento são, no mínimo, peculiares. Marcada por uma infância complicada e por um relacionamento abusivo com a mãe, é uma mulher de hábitos, apegada à rotina, e que procura conforto na própria solidão. Achei interessante o modo como me fui afeiçoando, aos poucos, à protagonista. Sem dúvida que, ao primeiro contacto, Eleanor é uma personagem que causa estranheza, devido à forma pouco comum como interpreta o mundo, à sua sinceridade absoluta e ao modo como gere a sua vida. Percebemos que a sua maneira de ser está fortemente ligada com algo que aconteceu no seu passado, mas é ao longo da história que vamos descobrindo a verdade que tantas vezes Eleanor se esforça por esquecer.
Raymond é um homem descontraído e amável, divertido e gentil, e é exatamente o tipo de amigo que Eleanor precisava, assinalando, de certa forma, o ponto de viragem na sua vida. As cenas partilhadas entre os dois representam sempre momentos de descoberta para Eleanor, que, passo a passo, vai começando finalmente a lidar com a dor e a aceitar que há coisas que não são culpa sua.
A escrita da autora é muito agradável e o tom empregue oscila frequentemente entre a dureza na narração de partes mais fortes, e o sentido de humor que confere ligeireza às partes mais divertidas, nomeadamente nas que constituem o processo de reaprendizagem de Eleanor. A sensibilidade com que a autora trata toda a história torna-a comovente. A própria visão que a protagonista tem de si própria, as suas inseguranças e a sua inabilidade para lidar com os outros, fazem dela uma personagem especial, e, assim que a conhecemos suficientemente bem, começamos a torcer por ela como se fosse uma pessoa real, pois começamos a sentir que, de facto, o é.
A evolução que caracteriza o percurso da protagonista estende-se até ao desfecho, que gostava que fosse um pouco mais conclusivo e que oferecesse mais certezas e garantias. Todavia, gostei que a sugestão ficasse apenas no ar e que o resto coubesse exclusivamente à imaginação do leitor.
"A Educação de Eleanor" é um daqueles livros especiais que nos aparecem de vez em quando e que nos fazem encarar a vida de forma diferente. Mais que uma história sobre uma mulher fragilizada e com capacidades sociais invulgares, esta é uma maravilhosa reflexão sobre a vida, em todo o seu encanto e complexidade, e sobre o poder que cada pequena boa ação pode gerar. Adorei e recomendo!
Livro de estreia de Gail Honeyman, "A Educação de Eleanor" narra a história de uma mulher inadaptada aos padrões da sociedade. Este é um livro diferente e apaixonante, com uma protagonista sui generis que vai conquistando aos poucos, e que é, em grande parte, uma homenagem belíssima ao poder da amizade.
Eleanor Oliphant é uma mulher na casa dos trinta com falhas graves na sua capacidade de interação social, e que encara o mundo de forma muito própria, segundo padrões algo excêntricos, o que leva a que seja uma pessoa bastante solitária. Isto, por si só, não a incomoda particularmente, visto que a rotina lhe transmite segurança e que o seu interesse em possuir uma vida social não é de todo relevante. Porém, apesar de crer não precisar de pessoas para viver tranquilamente, a verdade é que Eleanor sente que ter alguém na sua vida poderia ser a solução para todos os seus problemas.
Assim, desenvolve uma paixão platónica por um músico que viu atuar num concerto e que assume como sua alma gémea. No seu fascínio que roça quase a obsessão, Eleanor enceta um plano para se dar a conhecer ao cantor, enquanto tenta gerir a sua recente vida social. No entanto, não está habituada a este jogo de aparências, e as ilusões podem sair-lhe caras.
E depois há Raymond, um novo colega de trabalho que, embora com muitos defeitos, se torna o primeiro amigo de Eleanor, depois de ajudarem Sammy, um senhor idoso que se sentiu mal em plena rua. É através desta amizade que se desenvolve entre os três que os círculos sociais de Eleanor se vão alargando, e ela vai conhecendo pessoas que, lentamente, vão mudando a sua opinião sobre o mundo e sobre si própria, ao mesmo tempo que ajudam a sarar as feridas do passado, abrindo um espaço no coração dela para poder para começar de novo.
Eleanor é uma personagem deliciosamente singular, criativa e tocante, e ao mesmo tempo extremamente complexa. Sendo uma mulher inteligente, as suas linhas de pensamento são, no mínimo, peculiares. Marcada por uma infância complicada e por um relacionamento abusivo com a mãe, é uma mulher de hábitos, apegada à rotina, e que procura conforto na própria solidão. Achei interessante o modo como me fui afeiçoando, aos poucos, à protagonista. Sem dúvida que, ao primeiro contacto, Eleanor é uma personagem que causa estranheza, devido à forma pouco comum como interpreta o mundo, à sua sinceridade absoluta e ao modo como gere a sua vida. Percebemos que a sua maneira de ser está fortemente ligada com algo que aconteceu no seu passado, mas é ao longo da história que vamos descobrindo a verdade que tantas vezes Eleanor se esforça por esquecer.
Raymond é um homem descontraído e amável, divertido e gentil, e é exatamente o tipo de amigo que Eleanor precisava, assinalando, de certa forma, o ponto de viragem na sua vida. As cenas partilhadas entre os dois representam sempre momentos de descoberta para Eleanor, que, passo a passo, vai começando finalmente a lidar com a dor e a aceitar que há coisas que não são culpa sua.
A escrita da autora é muito agradável e o tom empregue oscila frequentemente entre a dureza na narração de partes mais fortes, e o sentido de humor que confere ligeireza às partes mais divertidas, nomeadamente nas que constituem o processo de reaprendizagem de Eleanor. A sensibilidade com que a autora trata toda a história torna-a comovente. A própria visão que a protagonista tem de si própria, as suas inseguranças e a sua inabilidade para lidar com os outros, fazem dela uma personagem especial, e, assim que a conhecemos suficientemente bem, começamos a torcer por ela como se fosse uma pessoa real, pois começamos a sentir que, de facto, o é.
A evolução que caracteriza o percurso da protagonista estende-se até ao desfecho, que gostava que fosse um pouco mais conclusivo e que oferecesse mais certezas e garantias. Todavia, gostei que a sugestão ficasse apenas no ar e que o resto coubesse exclusivamente à imaginação do leitor.
"A Educação de Eleanor" é um daqueles livros especiais que nos aparecem de vez em quando e que nos fazem encarar a vida de forma diferente. Mais que uma história sobre uma mulher fragilizada e com capacidades sociais invulgares, esta é uma maravilhosa reflexão sobre a vida, em todo o seu encanto e complexidade, e sobre o poder que cada pequena boa ação pode gerar. Adorei e recomendo!
Música que aconselho para acompanhar a leitura: Rita Ora_Your Song
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