sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Opinião sobre "A Amiga" - Dorothy Koomson

A Amiga
(Artigo de Opinião)


Autora: Dorothy Koomson
Título Original: The Friend (2017)
Tradução: Irene Ramalho
ISBN: 978-972-0-04025-1
Nº de páginas: 496
Editora: Porto Editora


Sinopse

    Quando o marido é promovido, Cece Solarin muda-se para Brighton com os três filhos, animada com a possibilidade de um recomeço. No entanto, o ambiente do bairro que a acolhe parece-lhe ansioso e os vizinhos sobressaltados. 

    Cece descobre que, três semanas antes, Yvonne, uma das mães mais populares da zona, foi deixada às portas da morte, no pátio da escola dos filhos - a mesma onde se vê obrigada a inscrever os seus. 

   No primeiro dia de aulas, Cece conhece três mães muito diferentes que parecem querer ajudá-la neste novo começo. Mas Maxie, Anaya e Hazel são também amigas de Yvonne, e a polícia desconfia que uma delas poderá estar envolvida no crime. 

    Preocupada com a segurança dos filhos, Cece está decidida a descobrir a verdade…


Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Porto Editora em troca de uma opinião sincera

Opinião

      Começo por agradecer à Porto Editora pelo gentil envio do livro.

      Este ano está a ser espetacular no que toca a conhecer novos autores, e Dorothy Koomson só veio confirmar isso mesmo. Apesar de "A Filha da Minha Melhor Amiga" ser, provavelmente, o seu livro mais conhecido, foi com "A Amiga" que me estreei nesta autora, e tenho a dizer que esta foi uma leitura maravilhosa!

    Devido à promoção do marido, e numa tentativa de salvar o seu casamento, Cece Solarin deixa o seu emprego e a sua vida em Londres para se mudar para a pequena cidade de Brighton, onde a espera a ocupação como dona de casa. Algo assustada perante a perspetiva de se encontrar numa localidade em que não conhece ninguém, Cece tem ainda outro problema com que se preocupar: há apenas uns meses atrás, foi encontrada uma mulher - Yvonne, a responsável pela Associação de Pais da Preparatória de Plummer - brutalmente agredida na escola para onde agora iria mandar os seus dois gémeos.

     E é exatamente quando vai levar os seus filhos mais novos, Oscar e Ore, às aulas, que Cece conhece três mães que acabariam por se tornar suas amigas - Maxie, Anaya e Hazel. As mesmas três mulheres que, em tempos, tinham sido as melhores amigas de Yvonne, e que podem, de alguma forma, estar relacionadas com o ataque desta. 

     Cece ver-se-á não só no meio de todo este mistério, como terá ainda a missão de descobrir qual destas mulheres poderá ser a responsável pela agressão a Yvonne. Poderá Cece confiar nestas mulheres que lhe estenderam a mão numa altura em que se sentia tão sozinha? Por que razão é que as versões dos acontecimentos delas não batem certo? Até onde será preciso ir para se guardar um segredo?

      Adorei a forma como a autora optou por narrar a história, não só por termos a narração alternada entre as diversas personagens - Cece, Anaya, Hazel e Maxie -, como por também conter vários flashbacks que nos mostram alguns episódios importantes do passado das mesmas que nos permitem compreender melhor algumas atitudes e situações. Além disso, a escrita da autora é extremamente agradável e o ritmo vai acelerando à medida que vamos penetrando nas teias de mentiras e segredos das personagens.

   Achei interessante a variedade de etnias e culturas representadas, bem como a diversidade dos problemas das personagens. Penso que a autora se terá preocupado em conferir uma dimensão real às personagens, não só nas pequenas questões do quotidiano, como também nos segredos que carregam. Talvez por todas as personagens serem tão diferentes, mas tão especiais à sua maneira e tão bem caracterizadas, não é fácil escolher uma que me tivesse agradado mais. No entanto, não posso deixar de demonstrar a minha simpatia por Cece, por ser uma mulher destemida, com uma personalidade forte e fiel aos seus princípios, e por Anaya, cujos capítulos me despertavam sempre o interesse.

    O enredo de "A Amiga" está muito bem construído, pois ficamos sempre em suspenso, tentando adivinhar o que escondem as diversas personagens. De facto, neste livro temos intrigas múltiplas, havendo a questão central - quem agrediu Yvonne -, e várias linhas paralelas - os segredos de cada personagem. Como se todo este mistério não fosse suficiente para cativar o leitor, este é ainda um livro bastante completo em termos de géneros literários: tem romance, muito suspense e até uns laivos de policial e thriller.

    "A Amiga" foi uma fantástica estreia com Dorothy Koomson: um livro que me cativou desde o início e que manteve a qualidade ao longo de toda a leitura até ao surpreendente final. Um livro muito bem escrito, com personagens muito realistas que, conjugadas com a alternância de perspetivas, conferem ao livro um carácter mais diversificado e dimensional. Uma excelente leitura que recomendo!

 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Taylor Swift_Look What You Made Me Do

Citação do Dia - 08 de setembro de 2017

"Amar é metade de crer."
Victor Hugo

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Citação do Dia - 07 de setembro de 2017

"O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor."
Oscar Wilde

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Citação do Dia - 05 de setembro de 2017

"Amar é cansar-se de estar só: é uma cobardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos)."
Fernando Pessoa

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Opinião sobre "A Árvore das Mentiras" - Frances Hardinge

A Árvore das Mentiras
(Artigo de Opinião)


Autora: Frances Hardinge
Título Original: The Lie Tree (2015)
ISBN: 978-972-23-608-52
Nº de páginas: 368
Editora: Editorial Presença


Sinopse

    As folhas eram frias e ligeiramente pegajosas. Não havia engano possível: Faith tinha-as visto meticulosamente reproduzidas no diário do pai. Estava diante da árvore das mentiras, que fora o maior segredo do reverendo, que fora o seu tesouro e a sua maldição. E agora a planta era dela, e a viagem que o pai não chegara a fazer poderia ser feita pela filha. Quando o pai de Faith morre, em circunstâncias misteriosas, ela decide investigar, para descobrir a verdade que se esconde por trás das mentiras. Procurando pistas entre os seus pertences, descobre uma estranha árvore, que se alimenta de mentiras sussurradas e dá um fruto que revela segredos ocultos. Mas, quando perde o controlo das falsidades que põe a circular, Faith percebe que, se a mentira seduz, a verdade estilhaça.


Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Editorial Presença em troca de uma opinião sincera


Opinião

      Começo por agradecer à Editorial Presença pelo gentil envio do livro.

    Faith Sunderly é uma jovem de catorze anos que, devido a um escândalo em que o pai, reverendo e reconhecido cientista, se vê envolvido, é obrigada a deixar a sua casa, em Londres, para umas férias forçadas na pequena ilha de Vane. 
  
    Após vários dias de quase exclusiva reclusão e de estranhos sintomas, o pai de Faith aparece morto e ela promete a si mesma  não descansar enquanto não descobrir a causa. As suas investigações acabam por conduzi-la até um preciso e misterioso espécime da coleção do pai: uma árvore que se alimenta de mentiras e cujo fruto oferece segredos e conhecimento a quem o consome.

    Empenhada na sua missão, Faith cria uma intrincada rede de mentiras que se vai tornando sucessivamente mais difícil de manter, corrompendo a sua inocência juvenil. Dar-lhe-á a árvore o conhecimento por que tanto anseia? E se sim, a que custo?

     Faith é uma personagem extremamente interessante. Apesar de ainda ser muito jovem, demonstra já um nível de maturidade e um grau de inteligência bastante avançados. Além disso, é uma rapariga com várias camadas  e cujas atitudes e pensamentos refletem uma sensibilidade e uma argúcia incomuns na sua idade. Achei que foi uma personagem muito bem construída e que me intrigou verdadeiramente durante a leitura.

   Não sabemos ao certo em que ano decorre a narrativa - temos apenas algumas pistas históricas que apontam para o século XIX como o período temporal provável -, mas encontramos uma sociedade em que a mulher é ainda considerada como um ser de intelecto inferior, cujas opiniões devem ser desvalorizadas, motivo pelo qual a sagacidade de Faith assume ainda maior destaque. 

     A escrita de Frances Hardinge é bela, quase poética, e, sem dúvida alguma, especial. Não só consegue fazer uma riquíssima construção de cenários e de personagens, como ainda embeleza as cenas com a escolha das palavras que usa. O ambiente sombrio e algo melancólico que serve de palco à história adequa-se perfeitamente à época e ao enredo e consegue envolver magistralmente o leitor. A autora descreve muito bem os cenários - mas sem se tornar demasiado cansativa - e, por diversas vezes durante a leitura, senti que os percorria realmente. 

     "A Árvore das Mentiras" é um livro extremamente bem escrito e bem pensado, com um enredo consistente e personagens muito bem desenvolvidas.  Mesmo que a trama não fosse tão original como é, creio que ainda assim a leitura valeria a pena unicamente pela forma como está escrito. Este é um livro que nos desafia por nos fazer pensar, refletir sobre o preço do conhecimento e sobre o valor da verdade. Uma excelente leitura!

 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Fleurie_Hurts Like Hell

Para mais informações sobre o livro A Árvore das Mentiras, clique aqui.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui

Citação do Dia - 04 de setembro de 2017

"O amor é Física, o casamento é Química."
Alexandre Dumas

sábado, 2 de setembro de 2017

Citação do Dia - 02 de setembro de 2017

"Fico com medo. Mas o coração bate. O amor inexplicável faz o coração bater mais depressa. A garantia única é que eu nasci. Tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: eis os limites de minha possibilidade."
Clarice Lispector

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Opinião sobre "Rainha Vermelha" (Rainha Vermelha #1) - Victoria Aveyard

Rainha Vermelha
(Rainha Vermelha #1)
(Artigo de Opinião)


Autora: Victoria Aveyard
Título Original: Red Queen (2015)
Tradução: Teresa Martins de Carvalho
ISBN: 978-989-637-848-6
Nº de páginas: 352
Editora: Saída de Emergência


Sinopse

     A sua morte está sempre ao virar da esquina, mas neste perigoso jogo, a única certeza é a traição num palácio cheio de intrigas. Será que o poder de Mare a salva... ou condena? 

     O mundo de Mare, uma rapariga de dezassete anos, divide-se pelo sangue: os plebeus de sangue vermelho e a elite de sangue prateado, dotados de capacidades sobrenaturais. Mare faz parte da plebe, os Vermelhos, sobrevivendo como ladra numa aldeia pobre, até que o destino a atraiçoa na própria corte Prateada. Perante o rei, os príncipes e nobres, Mare descobre que tem um poder impensável, somente acessível aos Prateados.
     Para não avivar os ânimos e desencadear revoltas, o rei força-a a desempenhar o papel de uma princesa Prateada perdida pelo destino, prometendo-a como noiva a um dos seus filhos. À medida que Mare vai mergulhando no mundo inacessível dos Prateados, arrisca tudo e usa a sua nova posição para auxiliar a Guarda Escarlate – uma rebelião dos Vermelhos – mesmo que o seu coração dite um rumo diferente.

Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Saída de Emergência em troca de uma opinião sincera


Opinião

       Começo por agradecer à Saída de Emergência pelo gentil envio do livro.

       Desde que saiu que "Rainha Vermelha" tem obtido críticas muito díspares: se uns amam, outros odeiam. Talvez por isso, fiquei com vontade de ler e perceber em qual dos pólos me encaixava, mas a verdade é que fiquei no meio: gostei da história, mas admito que nem tudo me satisfez. 

     Mare Barrow, uma jovem de 17 anos, vive num mundo com o qual não se identifica, pois a sociedade divide-se em duas classes bem distintas e imiscíveis, e que se evidenciam pela cor do sangue e pelos poderes que lhe são inerentes: os Vermelhos, a classe pobre e trabalhadora, forçada a servir os Prateados - o estrato superior, composto por pessoas poderosas que se fazem valer das suas capacidades e estatuto para explorar e oprimir os mais fracos. Descontente com o seu modo de vida, Mare é uma ladra exímia, que passa os seus dias a roubar bolsos alheios com o propósito de ajudar a família - atitude que não é particularmente bem recebida - e que vê aproximar-se o dia em que também ela, à semelhança do que já acontecera com os seus três irmãos mais velhos, será convocada para combater nas trincheiras.

      Tudo muda quando, numa noite de particular desespero, Mare se cruza com um estranho que acaba por lhe arranjar um trabalho no palácio de Verão da família real. Mas as reviravoltas na vida de Mare não acabam por aí! A trabalhar como serva no palácio, a jovem vê o seu destino mudar drasticamente quando, em frente às mais importantes Casas da corte Prateada, Mare descobre que há um poder em si que, enquanto Vermelha, não devia existir, e que lhe garantirá um lugar que nunca sonhou ocupar. E é nessas circunstâncias que a protagonista tem o primeiro contacto com a Guarda Escarlate: um grupo de Vermelhos cansados de viver sob as ordens dos Prateados, e que assumem como sua a luta pela igualdade.

       Num mundo novo e em que nem tudo é o que parece, Mare vê-se metida num rol de intrigas e mistérios, ao mesmo tempo que faz os possíveis por ajudar uma rebelião que se insurge em segredo. Quais são as verdadeiras intenções dos príncipes? Poderá Mare confiar naqueles que a rodeiam? Será o seu poder uma dádiva ou uma maldição?

     A história é narrada na primeira pessoa por Mare, uma rapariga que vive num mundo dividido em classes e que está disposta a sacrificar-se pelos que ama e pelos valores em que acredita. Agradou-me a sua intrepidez e a sua garra, mas nem sempre concordei com o seu modo de atuação. É de louvar a sua capacidade de enfrentar o perigo e a sua lealdade aos princípios que a regem, bem como a capacidade de não se deixar deslumbrar pelo novo meio de luxo e poder que a rodeia. Preferia que tivesse uma identidade mais marcante, mas gostei dela como protagonista.

    Gostei da forma como a autora desenvolveu os dois príncipes, Cal e Maven, e das circunstâncias que influenciam o modo de agir de cada um. Algo que me suscitou interesse foi constatar que ambos os príncipes, tendo uma relação tão cordial, tinham motivações tão opostas. Outra personagem digna de destaque é a rainha Elara, uma governante cruel e dissimulada que a autora explorou convenientemente, e que me despertou imenso a curiosidade.

     Este livro tem um triângulo amoroso pouco sólido, o que, sinceramente, não sei se me desagrada ou não. Na verdade, a componente amorosa não é a mais destacada neste livro, embora também esteja presente. Se, por um lado, gostei que a preocupação principal da autora não fosse o romance, por outro fiquei com a sensação de que houve uma falha neste campo, pois a protagonista acaba por gerar sentimentos - embora diferentes - pelos dois príncipes, mas é fácil perceber desde logo por qual dos dois bate mais forte o coração. Ou seja, apesar de a história apontar num certo sentido - e mesmo que, em determinado momento, surjam algumas dúvidas -, percebe-se à partida a direção que os acontecimentos vão tomar, o que torna tudo um pouco previsível. Preferia que a autora tivesse criado mais suspense e mais dúvida, para gerar realmente um efeito surpresa.

    Tendo "Rainha Vermelha" começado por ser uma ideia para um argumento, isso reflete-se na preocupação com as descrições e os detalhes, bem como na forma como são apresentados os pensamentos da protagonista, dando o conjunto uma experiência quase cinematográfica. A escrita da autora espelha isso mesmo e cativou-me, pois consegui visualizar perfeitamente os cenários e as ações das personagens, ainda que tenha apresenta algumas falhas no campo emocional. O início foi um pouco lento, pois há muita informação para apreender, mas, assim que assimilei as capacidades do Prateados, bem como as Casas da corte, e que percebi o modo como funcionava a sociedade, o ritmo da leitura aumentou imenso e comecei a sentir-me realmente viciada na história.

     Penso que a história peca por duas principais razões: em primeiro lugar, há momentos em que a previsibilidade acaba por tomar conta da história, embora, felizmente, esta ainda consiga surpreender num número razoável de aspetos; mas aquilo que me fez mais confusão foi mesmo o facto de, por diversas vezes durante a leitura, ter sentido que "Rainha Vermelha" era uma mescla de vários outros livros que já li. Tendo uma componente bastante distópica e uma sociedade estratificada, reconheço que, por vezes, se torna difícil inovar, sem seguir, inicialmente, a via quase padronizada das histórias do género. No entanto, esperava que a autora se tivesse distanciado mais dos enredos já conhecidos, pois é praticamente inevitável a comparação durante a leitura.

     As reviravoltas no final marcaram pela diferença e foram realmente um ponto de viragem no rumo da história. Espero que a autora as aproveite para se distanciar de alguns clichês, criando uma teia de acontecimentos mais original, uma vez que a história e as personagens têm ainda muito para desenvolver.

     "Rainha Vermelha" é uma história com personagens bem desenvolvidas, uma escrita envolvente e um ritmo acelerado, que consegue prender a atenção do leitor. Não é um livro perfeito e, na minha opinião, nem todos os aspetos foram desenvolvidos da melhor forma, mas ainda assim considero que esta foi uma boa leitura e gostei do livro. Espero que, nos próximos volumes, Victoria Aveyard opte por se afastar do curso da intriga e do estilo de outros livros do género, pois considero que há ainda muito potencial a explorar na história de Mare. 

 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Look What You Made Me Do_Taylor Swift

Citação do Dia - 01 de setembro de 2017

"O amor é uma bela flor à beira de um precipício. É necessário ter muita coragem para a ir colher."
Stendhal