quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Opinião sobre "Deixa-me Mentir" - Clare Mackintosh

Deixa-me Mentir
(Artigo de Opinião)


Autora: Clare Mackintosh
Título Original: Let Me Lie (2018)
ISBN: 9789898979032
Nº de páginas: 320
Editora: Cultura Editora


Sinopse

   Quando a verdade é demasiado cruel, a mentira é a melhor saída.

     Depois do seu pai e da sua mãe terem acabado com as próprias vidas de maneira muito parecida, em dois suicídios brutais e com intervalo de apenas alguns meses, Anna está a tentar virar a página do passado trágico da sua família e recomeçar a sua vida. 

    O novo namorado e o filho vieram para trazer à Anna alguns sorrisos no meio do caos. Mas, mesmo com todo o seu esforço para superar os seus traumas e se entregar aos novos começos, o seu passado de repente volta à tona trazendo ainda mais dor e devastação.

     No primeiro aniversário da morte da sua mãe, Anna recebe um bilhete anónimo e perturbador: Suicídio? Pensa melhor. Será possível que alguém poderia ser cruel ao ponto de fazer uma brincadeira dessas? Ou de facto existe algo por trás do suposto suicídio de seus pais? 

     No fundo, Anna nunca entendeu como eles tinham sido capazes de tirar as suas próprias vidas de maneira tão cruel.

    Deixa-me Mentir tem o ritmo lancinante que é a marca de Clare Mackintosh. Carregado de reviravoltas, deixa qualquer um em estado de choque da primeira à última página.

Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Cultura Editora em troca de uma opinião sincera


Opinião
     
      Começo por agradecer à Cultura pelo gentil envio do livro.

     Num intervalo de poucos meses, os pais de Anna Johnsson acabaram com as próprias vidas nas mesmas circunstâncias, deixando uma filha devastada a lidar com o peso dos porquês. Por mais que todas as provas apontem para tal, e que a própria polícia já tenha arquivado os casos, Anna não consegue convencer-se de que os pais seriam ambos capazes de cometer suicídio - e isso acaba por impedi-la de fazer devidamente o luto, não lhe permitindo seguir em frente e interferindo também com a sua algo recente relação e com a descoberta da maternidade.

     Um ano depois da morte da mãe, ainda profundamente marcada pelo trauma, Anna recebe um cartão anónimo com a desconcertante mensagem: Suicídio? Pensa melhor. Convicta de que há ainda muito por explicar, Anna está disposta a tudo para descobrir o que realmente aconteceu, mesmo que isso implique remexer em coisas do passado que alguém talvez não queira que venham ao de cima... 

     Para começar, tenho de referir que a primeira palavra que me vem à cabeça quando penso em "Deixa-me Mentir" é estranho. Quando terminei a leitura, fui incapaz de pousar o livro de imediato: tive de ir reler passagens - até capítulos inteiros! - anteriores, para ter a certeza de que não me tinha escapado nada e de que o que eu tinha percebido era realmente o que lá estava escrito. Há determinadas revelações nos capítulos finais que lançam toda uma nova luz sobre uma significativa parte da história, e que, no primeiro impacto, me deixaram a duvidar da minha própria capacidade de compreensão - e isso agradou-me.

    A narrativa está essencialmente dividida em quatro pontos de vista - o de Anna, a filha enlutada que procura a verdade; o de Murray Mackenzie, um polícia reformado que ainda trabalha como apoio civil numa esquadra; o de alguém que, ainda que não identificado, rapidamente começamos a suspeitar quem seja; e um outro que só surge mais ou menos a meio do livro. Gostei que a história estivesse repartida desta forma, pois, embora os capítulos de algumas personagens gerassem mais interesse do que os de outras, havia um equilíbrio entre contexto e ação.

     Murray Mackenzie é um detective reformado que não consegue largar a profissão que tanto adora e, certo de que a sua experiência ainda pode ser útil, decide levar a sério as suspeitas de Anna e investigar mais a fundo a morte dos seus pais, prometendo a si mesmo descobrir a verdade sobre o que aconteceu. No entanto, a sua mulher, Sarah, sofre de uma perturbação do foro psiquiátrico que torna a sua vida bastante instável, e, como tantas vezes ao longo da sua vida, Murray balança-se no limbo frágil que separa a vida pessoal da profissional. Apesar de serem capítulos com menos adrenalina, a verdade é que gostei de conhecer a história de Murray - um homem verdadeiramente bom - e a forma como a autora construiu a personagem e abordou o tema das doenças mentais.

    Este é, sem dúvida, um livro recheado de reviravoltas, mas também tenho de admitir que nem todos os plot twists me apanharam de surpresa. Apesar de tentar constantemente desenvolver teorias e descobrir o culpado, prefiro sempre quando o autor consegue deixar-me boquiaberta, pelo que, quando consigo acertar, acabo por ficar com a sensação de "soube a pouco". E, ainda que isso tenha acontecido algumas vezes durante a leitura, o volteface final deixou-me mesmo agradavelmente estupefacta.

    Como aspeto menos positivo tenho de referir que, durante a leitura, senti vários problemas com a tradução - essencialmente frases algo confusas, género de pronomes incorreto e pontuação fora do sítio - e, em diversas ocasiões, tive de ler várias vezes o mesmo parágrafo para compreender o sentido, e isso acabou por quebrar um bocado o ritmo. Não é nada de muito grave ou que prejudique seriamente a leitura, mas, no meu caso, fez-me alguma confusão, pelo que não poderia deixar de o mencionar.

     Se o início é mais lento e me custou um pouco entrar na história e compreender certos capítulos, principalmente quando ainda conhecia mal as personagens, a partir de um certo ponto tornou-se quase impossível interromper a leitura. Clare Mackintosh criou uma teia de mentiras e de segredos de família, que se entretece com personagens complexas e com um enredo intrigante e sombrio - elementos que tornam este thriller psicológico verdadeiramente viciante.

   "Deixa-me Mentir" é o tipo de livro que nos deixa confusos, nos faz pensar, nos obriga a extrair o sumo das entrelinhas e que, no final, ainda nos deixa inquietos e com uma sensação de estranheza que custa a sair - e isso, para mim, é a certeza de que foi uma boa leitura. Macabra e surpreendente  -literalmente até à última página -, esta é uma história que não esquecerei tão cedo.

 Música que aconselho para acompanhar a leitura: AronChupa & Little Sis Nora_Rave in the Grave

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