(Artigo de Opinião)
Autora: Delia Owens
Título Original: Where the Crawdads Sing (2018)
ISBN: 978-972-0-03220-1
Nº de páginas: 392
Nº de páginas: 392
Editora: Porto Editora
Sinopse
Kya tem apenas seis anos de idade quando vê a mãe sair de casa, com uma maleta azul e sapatos de pele de crocodilo, e percorrer o caminho de areia para nunca mais voltar. E à medida que todas as outras pessoas importantes na sua vida a vão igualmente abandonando, Kya aprende a ser autossuficiente: sensível e inteligente, sobrevive completamente sozinha no pantanal a que chama a sua casa, faz amizade com as gaivotas e observa a natureza que a rodeia com a atenção que lhe permite aprender muitas lições de vida.
O isolamento em que vive durante tantos anos influencia o seu comportamento: solitária e fugidia, Kya é alvo dos mais cruéis comentários por parte dos moradores da pacata cidade de Barkley Cove.
E quando o popular e charmoso Chase Andrews aparece morto, todos os dedos apontam na direção de Kya, a miúda do pantanal. E o impensável acontece.
Neste romance de estreia, Delia Owens relembra-nos que somos formatados para sempre pelas crianças que um dia fomos, e que para sempre estaremos sujeitos aos maravilhosos, mas também violentos, segredos que a natureza encerra.
Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Porto Editora em troca de uma opinião sincera
Opinião
Começo por agradecer à Porto Editora pelo gentil envio do livro.
"Lá, Onde o Vento Chora", romance de estreia de Delia Owens, foi um dos melhores livros que li nos último tempos e será, por certo, um daqueles que vai para o top da vida.
Quando, numa manhã igual a tantas outras, a jovem Kya, de apenas seis anos, vê a mãe sair de casa com uma maleta azul, não conseguiria sequer imaginar que era esse o momento que desencadearia uma mudança radical na sua vida. Com a partida da mãe, também os irmãos mais velhos, um a um, vão abandonando uma vida marcada pela miséria e pelos maus tratos, deixando a pequena Kya entregue aos cuidados de um pai negligente e violento.
A partir daí, Kya vê-se obrigada a crescer depressa. O pântano - a única realidade que conhece - torna-se a sua casa, e os animais a sua principal companhia. E é assim que vai amadurecendo, aprendendo conceitos como a amizade e o amor, descobrindo a complexidade das relações humanas, e sobrevivendo ao preconceito e ao peso da solidão.
A história é narrada em duas linhas temporais. Numa delas, vamos acompanhando o crescimento de Kya; na outra, em 1969, assistimos à investigação do homicidio do menino bonito de Barkley Cove. Numa América ainda cruel e muito marcada pelo preconceito, o nome da miúda do pantanal - uma jovem desde sempre tida como selvagem - surge rapidamente entre os principais suspeitos. O que terá realmente acontecido a Chase Andrews naquela noite? Será Kya uma vez mais vítima da intolerância das pessoas que nunca lhe estenderam a mão?
Kya é uma personagem maravilhosamente construída. É impossível não criar uma conexão imediata com aquela menina abandonada, que tão cedo se vê forçada a enfrentar o mundo sozinha e a depender apenas de si própria para sobreviver. Acompanhar o seu processo de aprendizagem empírica, observar a criação do seu vínculo com a natureza e ver o desabrochar da juventude numa alma tão livre quanto solitária, torna esta leitura num caminho verdadeiramente delicioso.
A escrita de Delia Owens tem algo de especial: é de uma extrema ternura e delicadeza, e as descrições das belas paisagens que constituem o cenário da vida de Kya são de uma envolvência tal que, durante a leitura, senti sempre que também eu estava naquele pantanal, a ver aquela menina aprender a crescer, a ultrapassar todas as dificuldades e a tornar-se uma mulher.
Confesso que o final não me apanhou totalmente de surpresa, mas é, sem dúvida, o desfecho certo para esta história algo triste, mas profundamente bela. Tudo se entrelaça para que o leitor tenha as respostas de que precisa e, no fim, fica uma sensação de tranquilidade e o quentinho da esperança - a mensagem de que, mesmo que nem sempre compreendamos os desígnios da vida, tudo vai acabar por correr bem.
De uma sensibilidade pouco comum, com uma protagonista excecionalmente complexa e que gera empatia desde o primeiro momento, e com uma escrita que não se pode considerar menos que fabulosa, "Lá, Onde o Vento Chora" é uma leitura que dificilmente me abandonará. É a prova de que as pessoas não são só o produto das experiências que vivem, que cabe a cada um de nós moldar a sua própria sorte. Recomendo e recomendo muito!
"Lá, Onde o Vento Chora", romance de estreia de Delia Owens, foi um dos melhores livros que li nos último tempos e será, por certo, um daqueles que vai para o top da vida.
Quando, numa manhã igual a tantas outras, a jovem Kya, de apenas seis anos, vê a mãe sair de casa com uma maleta azul, não conseguiria sequer imaginar que era esse o momento que desencadearia uma mudança radical na sua vida. Com a partida da mãe, também os irmãos mais velhos, um a um, vão abandonando uma vida marcada pela miséria e pelos maus tratos, deixando a pequena Kya entregue aos cuidados de um pai negligente e violento.
A partir daí, Kya vê-se obrigada a crescer depressa. O pântano - a única realidade que conhece - torna-se a sua casa, e os animais a sua principal companhia. E é assim que vai amadurecendo, aprendendo conceitos como a amizade e o amor, descobrindo a complexidade das relações humanas, e sobrevivendo ao preconceito e ao peso da solidão.
Kya é uma personagem maravilhosamente construída. É impossível não criar uma conexão imediata com aquela menina abandonada, que tão cedo se vê forçada a enfrentar o mundo sozinha e a depender apenas de si própria para sobreviver. Acompanhar o seu processo de aprendizagem empírica, observar a criação do seu vínculo com a natureza e ver o desabrochar da juventude numa alma tão livre quanto solitária, torna esta leitura num caminho verdadeiramente delicioso.
A escrita de Delia Owens tem algo de especial: é de uma extrema ternura e delicadeza, e as descrições das belas paisagens que constituem o cenário da vida de Kya são de uma envolvência tal que, durante a leitura, senti sempre que também eu estava naquele pantanal, a ver aquela menina aprender a crescer, a ultrapassar todas as dificuldades e a tornar-se uma mulher.
Confesso que o final não me apanhou totalmente de surpresa, mas é, sem dúvida, o desfecho certo para esta história algo triste, mas profundamente bela. Tudo se entrelaça para que o leitor tenha as respostas de que precisa e, no fim, fica uma sensação de tranquilidade e o quentinho da esperança - a mensagem de que, mesmo que nem sempre compreendamos os desígnios da vida, tudo vai acabar por correr bem.
De uma sensibilidade pouco comum, com uma protagonista excecionalmente complexa e que gera empatia desde o primeiro momento, e com uma escrita que não se pode considerar menos que fabulosa, "Lá, Onde o Vento Chora" é uma leitura que dificilmente me abandonará. É a prova de que as pessoas não são só o produto das experiências que vivem, que cabe a cada um de nós moldar a sua própria sorte. Recomendo e recomendo muito!
Música que aconselho para acompanhar a leitura: The Script_The Last Time
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