quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Opinião sobre "As Flores Perdidas de Alice Hart" - Holly Ringland

As Flores Perdidas de Alice Hart
(Artigo de Opinião)


Autora: Holly Ringland
Título Original: The Lost Flowers of Alice Hart (2018)
ISBN: 978-972-0-03062-7
Nº de páginas: 400
Editora: Porto Editora


Sinopse

    Um romance sobre as histórias que deixamos por contar e sobre as que contamos a nós próprios para sobrevivermos.

    Alice tem nove anos e vive num local isolado, idílico, entre o mar e os canaviais, onde as flores encantadas da mãe e as suas mensagens secretas a protegem dos monstros que vivem dentro do pai.


    Quando uma enorme tragédia muda a sua vida irrevogavelmente, Alice vai viver com a avó numa quinta de cultivo de flores que é também um refúgio para mulheres sozinhas ou destroçadas pela vida. Ali, Alice passa a usar a linguagem das flores para dizer o que é demasiado difícil transmitir por palavras.


   À medida que o tempo passa, os terríveis segredos da família, uma traição avassaladora e um homem que afinal não é quem parecia ser, fazem Alice perceber que algumas histórias são demasiado complexas para serem contadas através das flores. E para conquistar a liberdade que tanto deseja, Alice terá de encontrar coragem para ser a verdadeira e única dona da história mais poderosa de todas: a sua.


Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Porto Editora em troca de uma opinião sincera


Opinião

      Começo por agradecer à Porto Editora pelo gentil envio do livro.

     Quero começar já por dizer que, apesar de este ano estar a ser muito rico em termos de leituras (quer em quantidade, quer em qualidade), "As Flores Perdidas de Alice Hart" conquistou um lugar muito especial no meu coração.

     Alice Hart é uma menina de nove anos com uma curiosidade imensa pelo mundo, que adora dar longos passeios junto ao mar e perder-se nas páginas de um bom livro. Ansiosa pela chegada do seu irmãozinho, Alice tenta proteger-se a si própria e à mãe das tempestades incontroláveis que por vezes habitam dentro do seu pai.

     Quando uma terrível tragédia se abate sobre a família, Alice vê-se obrigada a ir viver com a avó paterna - uma desconhecida -, em Thornfield, uma quinta de cultivo de flores, onde vivem também outras mulheres que precisam de um local onde se sentir seguras. E é aí, nessa casa tão marcada pelas histórias das suas antepassadas, que a menina aprende a linguagem das flores, uma forma menos dolorosa de se comunicar.

      Alice vai crescendo e aprendendo que as flores podem ser um bálsamo para as suas feridas, até que uma nova traição vem abalar a sua estabilidade e fá-la partir em busca de si própria. Que segredos esconde o seu passado? Alcançará a liberdade que tanto deseja?

    Alice foi uma personagem que me cativou. Inicialmente, a maturidade pouco habitual numa criança da sua idade e o seu jeito peculiar de ver o mundo, aliados aos traumas de maus tratos, fizeram-me criar logo um laço empático com a menina. E depois, acompanhar o seu crescimento e o seu processo de autodescoberta, e ver o modo como as marcas que ficam de um passado doloroso acabam por condicionar o seu discernimento, fez-me gostar cada vez mais de Alice. Apreciei especialmente o facto de a autora não ter romantizado excessivamente a personagem, criando-lhe também uma faceta mais intempestiva e inconstante - em suma, bastante humana.

   Adorei conhecer não só a história de Alice, mas também a das suas antepassadas, a de algumas mulheres que procuraram refúgio em Thornfield e ainda algumas histórias aborígenes. Além disso, gostei muito de conhecer a linguagem das flores e de ver como a vida de Alice podia ser contada através delas.

     A única crítica que tenho a fazer a este livro é mesmo o facto de que gostava que o final tivesse sido mais desenvolvido. Gostava que a autora tivesse fechado a história de Alice com mais certezas e com mais detalhe, mas ainda assim fiquei satisfeita com o rumo dos acontecimentos.

    Este é um livro predominantemente melancólico e que aborda temas sérios e delicados, mas Holly Ringland trata-os com uma sensibilidade tal que acaba por transformar o triste em belo. E tudo neste livro é bonito e especial. Achei muito bem retratados o modo como funcionam os relacionamentos abusivos, bem como a fragilidade emocional e o amor cego que levam a um estado de dependência do outro, e que agravam ainda mais a situação - e faz-nos pensar em como tudo isto acaba por ser cíclico.

     "As Flores Perdidas de Alice Hart" foi, acima de tudo, uma leitura que me apaixonou. Escrito com uma sensibilidade extrema e de uma beleza pouco comum - até mesmo em termos físicos, uma edição fantástica -, mas que ainda assim nos deixa de coração apertado, este é um livro que emociona e que nos faz viajar pelas maravilhosas paisagens australianas, à medida que acompanhamos Alice na procura do seu lugar no mundo. Numa palavra: adorei!


 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Sierra Burgess is a Loser (Shannon Purser)_Sunflower

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