(Artigo de Opinião)
Autora: Gayle Forman
Título Original: I Was Here (2015)
Tradução: Maria João Freire de Andrade
ISBN: 978-972-23-5836-1
Nº de páginas: 256
Nº de páginas: 256
Editora: Editorial Presença
Sinopse
Cody fica chocada e arrasada com o suicídio de Meg, a sua melhor amiga. A pedido dos pais desta, Cody viaja até Tacoma, onde a amiga estudava, para reunir os seus pertences. Espantada, Cody descobre que Meg nunca lhe falara de inúmeros aspetos da sua vida. Por exemplo, os novos amigos, que são o tipo de pessoas com quem Meg nunca se daria antes de entrar para a faculdade, ou Ben, o vocalista de uma banda por quem a jovem se apaixonara. Porém, a sua maior descoberta ocorre quando acede ao computador de Meg e de repente tudo o que pensava que sabia sobre a morte da amiga se desmorona. Cody decide então levar esta descoberta às últimas consequências.
Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Editorial Presença em troca de uma opinião sincera
Opinião
Começo por agradecer à Editorial Presença pelo gentil envio do livro.
Nunca tinha lido nada de Gayle Forman, mas após o grande sucesso do livro "Se Eu Ficar", foi com grandes expectativas que parti para a leitura de "Eu Estive Aqui".
É através de uma mensagem enviada por e-mail que Cody Reynolds recebe a notícia do suicídio da sua melhor amiga, Meg Garcia. E, por incrível que pareça, esta tragédia que apanhou Cody de surpresa havia sido planeada ao mais ínfimo pormenor por Meg: desde as cartas para os pais e para a polícia enviadas com um atraso, até à gorjeta para a empregada do motel que a encontraria. Toda esta meticulosidade de Meg na preparação da sua morte, juntamente com o facto de não ter percebido o que se passava com ela, deixam Cody bastante perturbada.
Uma relação distante com a mãe e a necessidade de afeto e conforto, que só uma família lhe poderia oferecer, ditaram que a maior parte da infância e adolescência de Cody fossem passados em casa dos Garcia. Necessitada de um exemplo e feliz por viver na sombra de Meg, Cody sempre viu na amiga o melhor de si própria, um ídolo, alguém perfeito. Os desejos e os caprichos de Meg rapidamente se tornavam os de Cody, e quando a primeira decidiu que queria sair da pequena cidade onde viviam, a segunda também adotou esse sonho como seu. Mas as circunstâncias mudaram, e Cody viu-se presa num lugar onde nada acontecia, sem quaisquer perspetivas para o futuro, enquanto a amiga partia para estudar com uma bolsa integral numa universidade prestigiada.
O tempo passou e a distância foi-se impondo, enquanto o contacto diminuía, E é com a morte de Meg que Cody se apercebe que, afinal, não sabia nada do que se passava na sua nova vida, com os seus novos amigos e prioridades. Um e-mail na caixa de correio eletrónico de Meg despoleta em Cody uma busca incessante pela verdade, ao mesmo tempo que luta por não ceder à tentação de se deixar ir e se tenta redescobrir como ser individual.
Cody é o tipo de personagem do qual pode ser difícil gostar à primeira - a maneira como tenta lidar com o sofrimento de uma forma mais desapegada e calculada, num esforço por proteger as suas emoções, podem levar o leitor a pensar que realmente não se importa. Mas a verdade é que Cody cresceu num ambiente familiar desestruturado, com falta de um modelo parental a seguir, sem esperanças ou objetivos próprios. E, apesar das adversidades da vida, luta com resignação pela verdade que lhe permitirá começar a sarar as feridas do passado. A força e a determinação de Cody foram as características de que mais gostei nela: por mais que lhe custe continuar e por maior que seja o obstáculo ou a provação a superar, não baixa os braços e não desiste. Culpa-se, indevidamente, pela morte da amiga, e parte à procura da redenção, preparada para levar a sua busca às últimas consequências.
As personagens de "Eu Estive Aqui" não são nem têm vidas perfeitas. Têm defeitos e cometem muitos erros, mas vão aprendendo o que a vida lhes ensina, evitando recair em caminhos mal percorridos. Foi interessante ver o drama amplificado pelo facto de ocorrer numa pequena cidade, onde todos se conhecem e têm um parecer a emitir sobre a vida dos outros. As marcas que a morte de Meg deixa na sua família e nos seus amigos mostram como é fácil vacilar neste tipo de situações
A autora cai, de certa forma, num romance algo clichê e previsível, mas do qual não consegui deixar de gostar. A aproximação dos dois foi forçada pelas circunstâncias, mas a relação entre eles não foi imediata: foi-se construindo à medida que caminhavam juntos sobre o limbo, entre várias discussões e amuos. Unia-os o ambiente em que cresceram, a necessidade de afeto e o facto de ambos estarem vulneráveis com a perda, mas também a culpa que acalentavam por uma morte autoimposta.
A frieza e o calculismo de Meg ao preparar o seu fim são algo chocantes, mas alertam o leitor para o facto de que estas situações não são puramente fictícias: acontecem de facto, e é preciso estar alerta aos sinais dados pelas pessoas que nos rodeiam - seja através uma palavra não dita ou de uma atitude dissonante.
A seriedade e atualidade dos temas, e a forma suave e, simultaneamente, dura como são abordados, conseguiram cativar-me. O tema é pesado e ainda algo controverso, mas a leitura consegue, mesmo assim, desenrolar-se de forma fluída e agradável. A escrita de Gayle tem o poder de embalar o leitor na história, de o fazer querer saber mais e acompanhar as personagens. Gostei da forma como a autora pegou em algo intenso e difícil, e fez algo bonito.
Gostei especialmente da nota da autora, no final do livro, em que fala da pessoa que a inspirou para escrever "Eu Estive Aqui", e onde deixa um alerta ao leitor sobre a depressão, o suicídio e os grupos que o incentivam, e o que fazer se se encontrar numa posição semelhante à de Meg ou à de Cody.
Este é um livro que nos faz refletir sobre até que ponto conhecemos bem os nossos amigos e conseguimos identificar neles sinais de alerta. Mas é também a jornada de uma rapariga fragilizada pela perda, que se tenta redimir de uma culpa que não lhe pertence. "Eu Estive Aqui" mostra-nos o quão ténue pode ser a linha entre a vida e a morte, e a força que é necessária para se decidir viver. Gostei bastante!
Nunca tinha lido nada de Gayle Forman, mas após o grande sucesso do livro "Se Eu Ficar", foi com grandes expectativas que parti para a leitura de "Eu Estive Aqui".
É através de uma mensagem enviada por e-mail que Cody Reynolds recebe a notícia do suicídio da sua melhor amiga, Meg Garcia. E, por incrível que pareça, esta tragédia que apanhou Cody de surpresa havia sido planeada ao mais ínfimo pormenor por Meg: desde as cartas para os pais e para a polícia enviadas com um atraso, até à gorjeta para a empregada do motel que a encontraria. Toda esta meticulosidade de Meg na preparação da sua morte, juntamente com o facto de não ter percebido o que se passava com ela, deixam Cody bastante perturbada.
Uma relação distante com a mãe e a necessidade de afeto e conforto, que só uma família lhe poderia oferecer, ditaram que a maior parte da infância e adolescência de Cody fossem passados em casa dos Garcia. Necessitada de um exemplo e feliz por viver na sombra de Meg, Cody sempre viu na amiga o melhor de si própria, um ídolo, alguém perfeito. Os desejos e os caprichos de Meg rapidamente se tornavam os de Cody, e quando a primeira decidiu que queria sair da pequena cidade onde viviam, a segunda também adotou esse sonho como seu. Mas as circunstâncias mudaram, e Cody viu-se presa num lugar onde nada acontecia, sem quaisquer perspetivas para o futuro, enquanto a amiga partia para estudar com uma bolsa integral numa universidade prestigiada.
O tempo passou e a distância foi-se impondo, enquanto o contacto diminuía, E é com a morte de Meg que Cody se apercebe que, afinal, não sabia nada do que se passava na sua nova vida, com os seus novos amigos e prioridades. Um e-mail na caixa de correio eletrónico de Meg despoleta em Cody uma busca incessante pela verdade, ao mesmo tempo que luta por não ceder à tentação de se deixar ir e se tenta redescobrir como ser individual.
Cody é o tipo de personagem do qual pode ser difícil gostar à primeira - a maneira como tenta lidar com o sofrimento de uma forma mais desapegada e calculada, num esforço por proteger as suas emoções, podem levar o leitor a pensar que realmente não se importa. Mas a verdade é que Cody cresceu num ambiente familiar desestruturado, com falta de um modelo parental a seguir, sem esperanças ou objetivos próprios. E, apesar das adversidades da vida, luta com resignação pela verdade que lhe permitirá começar a sarar as feridas do passado. A força e a determinação de Cody foram as características de que mais gostei nela: por mais que lhe custe continuar e por maior que seja o obstáculo ou a provação a superar, não baixa os braços e não desiste. Culpa-se, indevidamente, pela morte da amiga, e parte à procura da redenção, preparada para levar a sua busca às últimas consequências.
As personagens de "Eu Estive Aqui" não são nem têm vidas perfeitas. Têm defeitos e cometem muitos erros, mas vão aprendendo o que a vida lhes ensina, evitando recair em caminhos mal percorridos. Foi interessante ver o drama amplificado pelo facto de ocorrer numa pequena cidade, onde todos se conhecem e têm um parecer a emitir sobre a vida dos outros. As marcas que a morte de Meg deixa na sua família e nos seus amigos mostram como é fácil vacilar neste tipo de situações
A autora cai, de certa forma, num romance algo clichê e previsível, mas do qual não consegui deixar de gostar. A aproximação dos dois foi forçada pelas circunstâncias, mas a relação entre eles não foi imediata: foi-se construindo à medida que caminhavam juntos sobre o limbo, entre várias discussões e amuos. Unia-os o ambiente em que cresceram, a necessidade de afeto e o facto de ambos estarem vulneráveis com a perda, mas também a culpa que acalentavam por uma morte autoimposta.
A frieza e o calculismo de Meg ao preparar o seu fim são algo chocantes, mas alertam o leitor para o facto de que estas situações não são puramente fictícias: acontecem de facto, e é preciso estar alerta aos sinais dados pelas pessoas que nos rodeiam - seja através uma palavra não dita ou de uma atitude dissonante.
A seriedade e atualidade dos temas, e a forma suave e, simultaneamente, dura como são abordados, conseguiram cativar-me. O tema é pesado e ainda algo controverso, mas a leitura consegue, mesmo assim, desenrolar-se de forma fluída e agradável. A escrita de Gayle tem o poder de embalar o leitor na história, de o fazer querer saber mais e acompanhar as personagens. Gostei da forma como a autora pegou em algo intenso e difícil, e fez algo bonito.
Gostei especialmente da nota da autora, no final do livro, em que fala da pessoa que a inspirou para escrever "Eu Estive Aqui", e onde deixa um alerta ao leitor sobre a depressão, o suicídio e os grupos que o incentivam, e o que fazer se se encontrar numa posição semelhante à de Meg ou à de Cody.
Este é um livro que nos faz refletir sobre até que ponto conhecemos bem os nossos amigos e conseguimos identificar neles sinais de alerta. Mas é também a jornada de uma rapariga fragilizada pela perda, que se tenta redimir de uma culpa que não lhe pertence. "Eu Estive Aqui" mostra-nos o quão ténue pode ser a linha entre a vida e a morte, e a força que é necessária para se decidir viver. Gostei bastante!
Música que aconselho para acompanhar a leitura: Noah Cyrus ft Labrinth_Make Me (Cry)
(https://www.youtube.com/watch?v=uwX4wrYLwfU)
Para mais informações sobre o livro Eu Estive Aqui, clique aqui.
Para mais informações sobre o livro Eu Estive Aqui, clique aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário