(Artigo de Opinião)
Autora: Anne Bishop
Título Original: Written in Red (2013)
Tradução: Luís Santod
ISBN: 978-989-637-739-7
Nº de páginas: 512
Nº de páginas: 512
Editora: Saída de Emergência
Sinopse
Ninguém tem a capacidade de criar novos mundos como Anne Bishop, autora bestseller do The New York Times. Nesta nova série somos transportados para um mundo habitado pelos Outros, seres sobrenaturais que dominam a Terra e cujas presas prediletas são os humanos.
Meg é uma profetisa de sangue. Sempre que a sua pele é cortada, ela tem uma visão do futuro – um dom que mais lhe parece uma maldição. O Controlador de Meg mantém-na aprisionada de forma a ter acesso total às suas visões. Quando finalmente ela consegue escapar, o único sítio seguro para se esconder é no Pátio de Lakeside – uma zona controlada pelos Outros.
O metamorfo Simon Wolfgard sente alguma relutância em contratar a estranha que lhe pede trabalho. Sente que ela esconde algo e, para além disso, ela não lhe cheira a uma presa humana. Algo no seu íntimo leva-o a contratá-la, mas ao descobrir quem a jovem realmente é e que o governo a procura, ele terá de tomar uma decisão. Será que proteger Meg é mais importante do que evitar o confronto que se avizinha entre humanos e Outros?
Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Saída de Emergência em troca de uma opinião sincera
Opinião
Começo por agradecer à Saída de Emergência pelo gentil envio do livro.
Já há algum tempo que queria experimentar a escrita de Anne Bishop, e foi "Letras Escarlates" a minha estreia com esta autora mundialmente conhecida pela sua capacidade de criar novos mundos e seres fantásticos. E só tenho uma coisa a dizer: adorei!
A história passa-se em Namid, o mundo, que é dividido entre humanos e Outros, presas e predadores. Desde tempos antigos que a tolerância entre estes dois grupos tem vindo a ser cultivada com esforço, numa tentativa de controlar o número de vidas humanas perdidas. Os Outros são seres sobrenaturais que controlam Namid - e, consequentemente, os humanos -, e entre eles encontram-se indivíduos de variadas espécies: desde vampiros até metamorfos de lobos, corvos, corujas e ursos, passando por outros seres mais sombrios, mortíferos e poderosos que habitam o interior dos Pátios (reservas naturais localizadas em cidades humanas, onde os Outros habitam de modo a poder controlar os recursos e as atividades de que estes dispõem).
Numa nevosa, fria e escura noite de inverno, conhecemos Meg Corbyn, uma humana de vinte e quatro anos, quando esta se encontra em fuga, procurando desesperadamente um lugar seguro onde se possa esconder. Um cartaz do Pátio de Lakeside, dando conta de uma vaga para o posto de Intermediária, fá-la dirigir-se à Ler e Uivar por Mais, a livraria gerida pelo líder do Pátio, Simon Wolfgard, um metamorfo de lobo.
Meg consegue a vaga e começa a trabalhar na Estação do Intermediário, onde a sua função é, como o nome indica, servir de intermediária entre humanos e Outros, recebendo as entregas que vêm do mundo exterior e distribuindo-as pelos habitantes do Pátio. É o seu afinco, a sua simpatia e a determinação em fazer um trabalho bem feito que, aos poucos, vai conquistando o coração dos Outros - seres habituados a encarar humanos como simples carne -, e que leva Meg a tornar-se parte da comunidade.
Porém, Meg anda em fuga e é um bem valioso para quem a procura e, apesar de todos no Pátio tentarem zelar ao máximo pela sua segurança, os seus perseguidores têm vantajosos meios disponíveis e pouco espaço de manobra para falharem. Quererão os Outros arriscar os seus para proteger uma humana? Serão capazes de fazê-lo? E a que custo?
Anne Bishop criou um mundo cativante e complexo, onde cada ser tem o seu lugar e a sua razão de ser. Logo no início, temos um pequeno capítulo intitulado "Uma Breve História do Mundo" que, acompanhada por outros recursos - como, por exemplo, mapas -, contextualiza a história e o mundo que iremos encontrar.
Algo que me agradou bastante prende-se com a facilidade de entrar no universo criado, apesar de este ser bastante intrincado, Tal dever-se-á, por certo, ao facto de conhecermos este mundo juntamente com Meg, e irmos aprendendo aos poucos as regras e os segredos do Pátio e dos seus habitantes. Penso que a autora terá feito um esforço para que o autor não se sentisse completamente perdido neste novo mundo, e isso é sem dúvida um ponto positivo.
Outra coisa que apreciei foi a construção das personagens. Quer os humanos quer os Outros encontrados são indivíduos com o grau certo de profundidade e de relevância na história, aparecendo nos momentos certos para agitar a trama. Gostei muito da grande variedade de seres que encontramos e de descobrir o seu papel no Pátio. Nem tudo nos é revelado logo neste primeiro livro e fica a sensação de que há personagens com ainda muito potencial a ser explorado nos próximos volumes, como é o caso de Tess e das Elementais. Adorei Sam, uma personagem que ganha bastante destaque durante a narrativa, e que conquista com a sua fofura. Também me agradaram as relação entre Outros e humanos - principalmente os polícias -, e o esforço tenso de ambas as partes para manter uma convivência cordial que garantisse a paz. Os "monstros" são apresentados de uma forma real e pouco embelezada, transmitindo a sua essência de predadores, mas também o empenho dedicado ao alcance de uma relação de tolerância para com os humanos.
Encontramos a figura de vilão em Asia Crane, apesar de esta ser apenas um figura menor a mando de alguém poderoso, e no Controlador de Meg, que, mesmo não aparecendo fisicamente na história, está sempre presente, não só através do medo da protagonista, mas também nas figuras que coloca no encalço de Meg, uma vez que considera esta sua propriedade e uma valiosa fonte de rendimento. Relativamente a Asia Crane, apesar de achar que é uma personagem bem construída, por vezes questionei-me quanto à sua ingenuidade e quanto aos motivos que verdadeiramente a faziam arriscar a sua vida. É uma personagem mesquinha e irritante, mas acabei por me rir com algumas das situações em que se metia.
Meg é o centro em torno do qual toda a ação gira. É uma rapariga doce e esforçada, que pela primeira vez está a ter um contacto real com o mundo e com as sensações, mas que tem um passado que a persegue - literalmente. É a sua inocência e bondade, mas também a sua singularidade ao lidar com algumas situações, que cativa os Outros e que lhe reserva um lugar na comunidade do Pátio de Lakeside. Apesar de ter gostado muito de Meg e das situações caricatas que esta protagoniza, tenho de admitir que me rendi a Simon. O metamorfo, apesar de ser um dos Outros que mais contacto tem com o seres humanos, inicialmente ainda os encara muito como presas. Assim, faz-lhe alguma confusão que Meg desperte nele sensações diferentes, nomeadamente uma necessidade de a proteger. Simon é quem apresenta uma maior evolução ao longo da narrativa, pois vê-mo-lo perder alguma da rudeza e ferocidade que apresentava inicialmente, sendo estas substituídas por
Confesso que passei grande parte do livro à espera que acontecesse algo entre Meg e Simon, o que acabou por não acontecer. Se primeiramente achei isso um pouco frustrante, acabei por ficar agradada com o facto de a autora não fazer do romance uma prioridade na trama. Meg e Simon vão-se conhecendo e mudando as opiniões que têm um sobre o outro e, apesar de podermos vislumbrar a possibilidade de qualquer coisa entre eles, ela não se desenvolve neste livro. Quem sabe nos próximos aconteça alguma coisa...
Resta-me dizer que também me rendi à escrita de Anne Bishop. Mesmo não sendo o livro narrado na primeira pessoa, conhecemos bem as personagens e as suas intenções, e temos os planos das personagens certas para que entendamos o que está a acontecer. A escrita é fluída e envolvente, com uns divertidos toques de humor que cativam facilmente. Apenas tenho a dizer que, por vezes, algumas cenas - como, por exemplo, o quotidiano de Meg na estação -, poderiam ser encurtadas, por não serem as mais relevantes na trama. Fora isso, não tenho nada de negativo a apontar.
Já há algum tempo que queria experimentar a escrita de Anne Bishop, e foi "Letras Escarlates" a minha estreia com esta autora mundialmente conhecida pela sua capacidade de criar novos mundos e seres fantásticos. E só tenho uma coisa a dizer: adorei!
A história passa-se em Namid, o mundo, que é dividido entre humanos e Outros, presas e predadores. Desde tempos antigos que a tolerância entre estes dois grupos tem vindo a ser cultivada com esforço, numa tentativa de controlar o número de vidas humanas perdidas. Os Outros são seres sobrenaturais que controlam Namid - e, consequentemente, os humanos -, e entre eles encontram-se indivíduos de variadas espécies: desde vampiros até metamorfos de lobos, corvos, corujas e ursos, passando por outros seres mais sombrios, mortíferos e poderosos que habitam o interior dos Pátios (reservas naturais localizadas em cidades humanas, onde os Outros habitam de modo a poder controlar os recursos e as atividades de que estes dispõem).
Numa nevosa, fria e escura noite de inverno, conhecemos Meg Corbyn, uma humana de vinte e quatro anos, quando esta se encontra em fuga, procurando desesperadamente um lugar seguro onde se possa esconder. Um cartaz do Pátio de Lakeside, dando conta de uma vaga para o posto de Intermediária, fá-la dirigir-se à Ler e Uivar por Mais, a livraria gerida pelo líder do Pátio, Simon Wolfgard, um metamorfo de lobo.
Meg consegue a vaga e começa a trabalhar na Estação do Intermediário, onde a sua função é, como o nome indica, servir de intermediária entre humanos e Outros, recebendo as entregas que vêm do mundo exterior e distribuindo-as pelos habitantes do Pátio. É o seu afinco, a sua simpatia e a determinação em fazer um trabalho bem feito que, aos poucos, vai conquistando o coração dos Outros - seres habituados a encarar humanos como simples carne -, e que leva Meg a tornar-se parte da comunidade.
Porém, Meg anda em fuga e é um bem valioso para quem a procura e, apesar de todos no Pátio tentarem zelar ao máximo pela sua segurança, os seus perseguidores têm vantajosos meios disponíveis e pouco espaço de manobra para falharem. Quererão os Outros arriscar os seus para proteger uma humana? Serão capazes de fazê-lo? E a que custo?
Anne Bishop criou um mundo cativante e complexo, onde cada ser tem o seu lugar e a sua razão de ser. Logo no início, temos um pequeno capítulo intitulado "Uma Breve História do Mundo" que, acompanhada por outros recursos - como, por exemplo, mapas -, contextualiza a história e o mundo que iremos encontrar.
Algo que me agradou bastante prende-se com a facilidade de entrar no universo criado, apesar de este ser bastante intrincado, Tal dever-se-á, por certo, ao facto de conhecermos este mundo juntamente com Meg, e irmos aprendendo aos poucos as regras e os segredos do Pátio e dos seus habitantes. Penso que a autora terá feito um esforço para que o autor não se sentisse completamente perdido neste novo mundo, e isso é sem dúvida um ponto positivo.
Outra coisa que apreciei foi a construção das personagens. Quer os humanos quer os Outros encontrados são indivíduos com o grau certo de profundidade e de relevância na história, aparecendo nos momentos certos para agitar a trama. Gostei muito da grande variedade de seres que encontramos e de descobrir o seu papel no Pátio. Nem tudo nos é revelado logo neste primeiro livro e fica a sensação de que há personagens com ainda muito potencial a ser explorado nos próximos volumes, como é o caso de Tess e das Elementais. Adorei Sam, uma personagem que ganha bastante destaque durante a narrativa, e que conquista com a sua fofura. Também me agradaram as relação entre Outros e humanos - principalmente os polícias -, e o esforço tenso de ambas as partes para manter uma convivência cordial que garantisse a paz. Os "monstros" são apresentados de uma forma real e pouco embelezada, transmitindo a sua essência de predadores, mas também o empenho dedicado ao alcance de uma relação de tolerância para com os humanos.
Encontramos a figura de vilão em Asia Crane, apesar de esta ser apenas um figura menor a mando de alguém poderoso, e no Controlador de Meg, que, mesmo não aparecendo fisicamente na história, está sempre presente, não só através do medo da protagonista, mas também nas figuras que coloca no encalço de Meg, uma vez que considera esta sua propriedade e uma valiosa fonte de rendimento. Relativamente a Asia Crane, apesar de achar que é uma personagem bem construída, por vezes questionei-me quanto à sua ingenuidade e quanto aos motivos que verdadeiramente a faziam arriscar a sua vida. É uma personagem mesquinha e irritante, mas acabei por me rir com algumas das situações em que se metia.
Meg é o centro em torno do qual toda a ação gira. É uma rapariga doce e esforçada, que pela primeira vez está a ter um contacto real com o mundo e com as sensações, mas que tem um passado que a persegue - literalmente. É a sua inocência e bondade, mas também a sua singularidade ao lidar com algumas situações, que cativa os Outros e que lhe reserva um lugar na comunidade do Pátio de Lakeside. Apesar de ter gostado muito de Meg e das situações caricatas que esta protagoniza, tenho de admitir que me rendi a Simon. O metamorfo, apesar de ser um dos Outros que mais contacto tem com o seres humanos, inicialmente ainda os encara muito como presas. Assim, faz-lhe alguma confusão que Meg desperte nele sensações diferentes, nomeadamente uma necessidade de a proteger. Simon é quem apresenta uma maior evolução ao longo da narrativa, pois vê-mo-lo perder alguma da rudeza e ferocidade que apresentava inicialmente, sendo estas substituídas por
Confesso que passei grande parte do livro à espera que acontecesse algo entre Meg e Simon, o que acabou por não acontecer. Se primeiramente achei isso um pouco frustrante, acabei por ficar agradada com o facto de a autora não fazer do romance uma prioridade na trama. Meg e Simon vão-se conhecendo e mudando as opiniões que têm um sobre o outro e, apesar de podermos vislumbrar a possibilidade de qualquer coisa entre eles, ela não se desenvolve neste livro. Quem sabe nos próximos aconteça alguma coisa...
Resta-me dizer que também me rendi à escrita de Anne Bishop. Mesmo não sendo o livro narrado na primeira pessoa, conhecemos bem as personagens e as suas intenções, e temos os planos das personagens certas para que entendamos o que está a acontecer. A escrita é fluída e envolvente, com uns divertidos toques de humor que cativam facilmente. Apenas tenho a dizer que, por vezes, algumas cenas - como, por exemplo, o quotidiano de Meg na estação -, poderiam ser encurtadas, por não serem as mais relevantes na trama. Fora isso, não tenho nada de negativo a apontar.
"Letras Escarlates" é um dos melhores livros de fantasia urbana que já li, e é um início perfeito para uma série muito promissora. Com um mundo interessante e sem falhas e personagens que cativam pela sua originalidade, Anne Bishop conquistou-me! Aproveito ainda elogiar a capa da edição portuguesa deste livro, que é simplesmente linda e que capta na perfeição vários elementos da essência da história. Mal posso esperar por ler "Bando de Corvos", o segundo volume da série "Os Outros". Recomendo sem reservas!
Música que aconselho para acompanhar a leitura: I Could Use a Love Song_Maren Morris
Ainda não li este livro. Fiquei com mais vontade de o ler, mas talvez nas férias o possa fazer.
ResponderEliminar+_+