segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Opinião sobre "Nunca Perdoar, Nunca Esquecer" (Kick Lannigan #1) - Chelsea Cain

 Nunca Perdoar, Nunca Esquecer
(Kick Lannigan #1)
(Artigo de Opinião)


Autora: Chelsea Cain
Título Original: One Kick (2014)
Tradução: Rui Azeredo
ISBN: 978-989-637-986-5
Nº de páginas: 320
Editora: Saída de Emergência


Sinopse

      Kick Lannigan, 21 anos, é uma sobrevivente. Raptada aos seis anos, a família, a polícia, bem como a comunidade, assumiram que o pior tinha acontecido. Mas é encontrada viva seis anos depois. Submetida a toda uma série de terapias para a ajudar a superar o trauma, é só quando canaliza as suas forças e raiva para a luta que Lannigan se sente melhor. Aos 13 anos, começa a aprender todo o tipo de artes marciais e técnicas de luta, jurando que nunca mais voltará a ser vítima.


     Quando duas crianças desaparecem na área de Portland, Kick é abordada por um enigmático homem de nome Bishop que a convence de que a sua experiência e habilidades podem ajudar a salvar as vítimas. Mal sabe ela que o caso irá desvendar o seu próprio passado aterrorizador…

Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Saída de Emergência em troca de uma opinião sincera


Opinião

       Começo por agradecer à Saída de Emergência pelo gentil envio do livro.

       "Nunca Perdoar, Nunca Esquecer" é o primeiro livro de uma série que se adivinha promissora, e na qual espero que a Saída de Emergência continue a apostar! Se, logo à partida, achei a sinopse prometedora, garanto que o livro conseguiu superar largamente as minhas expetativas!

       Kick Lannigan foi raptada com apenas seis anos e, ao fim de outros seis em cativeiro, é salva por acaso numa operação do FBI. Dez anos depois do seu resgate, Kick é uma jovem que procurou superar o trauma através da aprendizagem de todo o tipo de artes marciais e do manuseamento de armas - todos os recursos e técnicas de autodefesa que a fizessem sentir-se segura novamente. Porém, apesar de Kick ser uma mulher forte e determinada, o tempo que passou em cativeiro e as atrocidades a que foi submetida durante esse período deixaram mazelas na sua personalidade.

    Atormentada por um erro que cometeu no passado, Kick dedica-se a procurar crianças desaparecidas, seguindo todas as pistas que consegue com a ajuda do irmão, James. E é então que conhece Bishop, um misterioso homem que a convence a usar a sua experiência para salvar duas crianças que desapareceram na área de Portland, e cujos raptos ele suspeita poderem estar relacionados com pessoas que Kick conheceu quando estava sob a alçada de Mel - o seu raptor.

     Kick é uma protagonista bastante sólida, de quem gostei não apenas por pena ou compaixão, mas pelo lado sobrevivente que desenvolveu. É uma jovem presa numa constante luta interior para vencer os seus demónios e para transparecer a aparência dura e forte que deseja, sendo, simultaneamente, um exemplo de força, coragem e vulnerabilidade. O livro é narrado na terceira pessoa, mas sob a perspetiva de Kick, dando acesso a alguns dos seus pensamentos mais profundos. Este relato permite compreender a forma como, passados dez anos, a experiência traumática a que foi submetida continua a marcá-la - alguns episódios desencadeiam ainda em Kick estados de apatia e flashbacks. Gostei muito destes "regressos ao passado", uma vez que retratam a forma como um raptor consegue, através do medo, manipular e formatar a mente das vítimas.

     Bishop é uma personagem enigmática: não sabemos o seu verdadeiro nome, para quem trabalha ou quais os interesses ou princípios que o movem, e isso acaba por dar ainda mais ímpeto à história. Cria curiosidade através da dúvida, pois por diversas vezes me questionei qual o seu real propósito e o que pretendia de Kick.

     Gostei da relação que a autora criou entre Kick e Bishop: não há romance aberto neste livro. Na verdade, a relação entre os dois é, na maior parte do tempo, bastante áspera, e é quase frustrante ver a forma (quase) desinteressada como interagem. Porém, é expectável que, em futuros livros, esta "inimizade" evolua para algo mais. Mesmo assim, a tensão entre os dois acaba por aliviar um pouco o clima principal.

      A autora aborda temas sérios e delicados como o rapto de crianças e a pornografia infantil de uma forma impactante, conseguindo despertar as emoções do leitor sem necessitar de recorrer a descrições mais chocantes e violentas. De facto, apesar de as descrições das personagens e dos acontecimentos serem muito fiéis à realidade, fazendo despontar os sentimentos certos nos momentos certos, não encontramos pormenores mais gráficos e/ou perturbadores - o que, na minha opinião, se traduz num ponto positivo.

     A trama é, tal como a temática em que assenta, bastante complexa. É uma história intensa que, inevitavelmente, abala o leitor. A realidade retratada neste livro é bastante dura e, como tal, alguns trechos são naturalmente mais pesados e angustiantes. As personagens estão extremamente bem construídas: são quase humanas - complicadas e com defeitos. Kick, Bishop e James conseguiram cativar completamente a minha atenção, e até Mel foi uma personagem que despertou em mim sentimentos ambíguos. Adorei a forma como a autora jogou constantemente com as personagens e com os dados.

    Também gostei bastante do estilo de Cain: é limpo, claro, apesar do relato em si ser subjetivo. Chelsea consegue criar verdadeira tensão nos momentos em que esta é exigida, e mantém o suspense com grande mestria. Aliás, o crescendo de suspense que acompanha o leitor durante obra confere à leitura um ritmo célere e vertiginoso, tornando-se difícil pousar o livro antes de o acabar.

      Embora tenhamos um final para o caso dos raptos, a verdade é que o desfecho da história de Kick e Bishop é muito aberto, com muitas questões que ficam ainda por responder - e que, possivelmente, terão solução nos próximos volumes da série. No entanto, as revelações que vislumbrámos no último capítulo serviram apenas para me deixar com ainda mais vontade de ler a continuação!

    "Nunca Perdoar, Nunca Esquecer" foi uma leitura intensa e compulsiva, e um fantástico primeiro volume, com a dose certa de todos os componentes que fazem um bom thriller. Um livro que adorei e uma série que quero acompanhar!


 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Take Me To Church_Hozier

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