terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Opinião sobre "Flores Cortadas" - Karin Slaughter

Flores Cortadas
(Artigo de Opinião)



Autora: Karin Slaughter
Título Original: Pretty Girls (2015)
Tradução: Fátima Tomás da Silva
ISBN: 978-84-16502-52-3
Nº de páginas: 560
Editora: HarperCollins Ibérica


Sinopse

     Irmãs. Desconhecidas. Sobreviventes.

   Passaram mais de duas décadas desde que Julia, a irmã mais velha de Claire e de Lydia, desapareceu aos 19 anos, sem deixar rasto. Algum tempo depois, elas deixaram de se falar e seguiram caminhos opostos. Claire tinha-se convertido na esposa decorativa e ociosa de um milionário de Atlanta. Lydia, uma mãe solteira, namorava com um ex-presidiário e esforçava-se por fazer com que o dinheiro chegasse até ao fim do mês. 

    No entanto, nenhuma delas recuperara do horror e da tristeza da tragédia partilhada. Uma ferida atroz, que se reabriu cruelmente quando o marido de Claire foi assassinado. 

    O desaparecimento de uma jovem e o assassinato de um homem de meia-idade, separados quase por um quarto de século. Que relação podia haver entre ambos? Depois de alcançar uma trégua precária, as irmãs sobreviventes olharam para o passado em busca da verdade, começaram a desenterrar os segredos que destruíram a sua família, a descobrir uma possibilidade de redenção e vingança onde menos esperavam.

  Potente, perturbador e absorvente, repleto de personagens inesquecíveis e de reviravoltas assombrosas, Flores Cortadas é um thriller magistral, de uma das melhores escritoras de suspense do panorama literário atual.


Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela HarperCollins Ibérica em troca de uma opinião sincera


Opinião

      Começo por agradecer à  HarperCollins Ibérica pelo gentil envio do livro.

      Apesar das excelentes críticas que tenho lido sobre a série Will Trent, de Karin Slaughter, "Flores Cortadas" foi a minha estreia com a autora. E que estreia!

     Julia Carroll desapareceu com apenas 19 anos, deixando para trás uma família destruída: Helen, uma mãe que se abandona à bebida; Sam, um pai obcecado com a verdade que se esconde por detrás do seu desaparecimento; e duas irmãs mais novas, Lydia e Claire, entregues a si mesmas e obrigadas a crescer pela força das circunstâncias.

     Lydia e Claire acabam por se desentender por causa de Paul, o noivo e futuro marido de Claire, passando cerca de duas décadas afastadas. Prova-se a ironia da vida quando o homem que, anos antes, foi o responsável pela separação delas, se torna também o homem que, com a sua morte, as volta a reunir em torno de uma causa sombria que pode abalar tudo aquilo em que acreditam. A morte de Paul e o desaparecimento de uma jovem vêm remexer no passado mal resolvido entre as duas irmãs sobreviventes, despoletando um pesadelo interminável que pode culminar com a descoberta daquilo que mais desejam, ou com o confronto com aquilo que mais temem.

    A história é narrada segundos três planos: na terceira pessoa, as perspetivas de Claire e de Lydia; e, na primeira pessoa, o diário em forma de cartas que Sam Carroll escreveu para Julia depois de esta desaparecer. O paralelismo entre o passado e o presente confere profundidade à história, permitindo ao leitor o contacto com várias pessoas que conheceram Julia e que, à sua maneira própria, julgam e tecem teorias sobre o que poderá realmente ter acontecido a uma jovem tão cheia de vida.

     Claire Scott é casada com um milionário e encarna o estereótipo de esposa troféu. À medida que a conhecemos, vamos percebendo que o seu modo de pensar é confuso, e que não é tão inocente e ingénua como se poderia pensar numa primeira impressão.

    Lydia Delgado, por sua vez, é mãe solteira e criou a filha sozinha, após uma adolescência regada com rebeldia e muitas drogas. Subiu na vida a pulso, com trabalho e persistência, e tudo o que tem é fruto da sua dedicação. Namora com um ex-presidiário e vive com a filha, Dee, uma jovem de 17 anos que é o motivo do seu orgulho. É uma mulher traumatizada com o desaparecimento da irmã e com um acontecimento do passado, que a distanciou da família durante duas décadas e que poderá ser uma das chaves para o problema.

    Através das cartas que Sam dirige à filha mais velha, temos acesso ao desespero de um pai que tenta a todo o custo descobrir uma verdade que devolva um pouco de paz ao seu espírito destroçado. Estas são relatos sobre as investigações que este homem enceta - tentando desvendar o máximo possível sobre os últimos passos de Julia e sobre o que poderá ter-lhe acontecido -, mas são também o espelho de um pai que, ao não querer desistir de uma filha perdida, acaba por se distanciar das outras. A obsessão de Sam afasta-o da sua família e deixa-o sozinho e entregue aos seus pensamentos cruéis e teorias devastadoras.

    As personagens deste livro são especialmente marcantes por serem complexas e por não serem apenas uma coisa, ou seja, por não poderem ser simplesmente classificadas como boas ou más. Demonstram na perfeição que nem tudo é o que aparenta ser, que podemos viver uma vida enganados quando a verdade esteve sempre escondida debaixo dos nossos olhos e, acima de tudo, reforçam o facto de nunca conhecermos verdadeiramente as pessoas, pois o ser humano é um ser múltiplo e intrincado, constituído por várias camadas.

    A escrita de Karin Slaughter acompanha a dureza da história: é crua, obscura, algo violenta e assombrosa. A leitura é pesada, repleta de cenas e de descrições peculiares que chocam fortemente e que salientam a crueldade de que é capaz o ser humano. Em muitas ocasiões, torna-se mesmo desconfortável ler as atrocidades cometidas sem remorsos, ocultas por uma capa de aparente normalidade. No entanto, é também viciante, uma vez que mexe com a nossa mente e com as nossas emoções, obrigando-nos a enterrarmo-nos cada vez mais fundo na teia de mentiras que acompanha a trama e as personagens.

     Esta edição inclui ainda uma prequela, Arrancadas, que narra o último dia da vida de Julia, antes de ter desaparecido. Acima de tudo, vem reforçar a ideia de as pessoas íntegras e virtuosas estão igualmente susceptíveis aos perigos que espreitam a cada esquina. É interessante conhecer um pouco da personalidade de Julia através da sua própria perspetiva, no fim de lermos uma história em que apenas nos é apresentada segundo os pontos de vista do pai e das irmãs.

    "Flores Cortadas" é intenso e desconcertante, possui um enredo denso e macabro e personagens perturbadoras. É um livro sobre uma família despedaçada após o desaparecimento de um dos seus membros, sobre o modo como funciona a mente dos psicopatas e sobre a confiança cega que nos leva a ignorar qualquer sinal indiciador de problemas. É forte, escuro e absorvente, É, simplesmente, fantástico!


 Música que aconselho para acompanhar a leitura: I Don't Wanna Live Forever_Zayn and Taylor Swift

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